A INSPIRAÇÃO
A Inspiração abarca uma variedade de fontes e de Gêneros Literários
O fato de a inspiração ser verbal, ou escrita, não exclui o uso de documentos literários e de gêneros
literários diferentes entre si. As Escrituras Sagradas não foram ditadas palavra por palavra, no sentido
comum que se atribui ao verbo ditar. Na verdade, há certos trechos menores da Bíblia, como, por
exemplo, os Dez Mandamentos, que Deus outorgou diretamente ao homem (Dt 4.10), mas em parte
alguma está escrito ou fica implícito que a Bíblia é resultante de um ditado palavra por palavra. Os
autores das Sagradas Escrituras eram escritores e compositores, não meros secretários, amanuenses ou
estenógrafos. Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagradas e dão forte
apoio a essa afirmativa. Em primeiro lugar, existe uma diferença marcante de vocabulário e de estilo
de um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões literárias de Isaías com os tons
lamurientos de Jeremias. Compare-se a construção literária de suma complexidade, encontrada em
Hebreus, com o estilo simples de João. Distinguimos facilmente a linguagem técnica de Lucas, o
médico amado, da linguagem de Tiago, formada de imagens pastorais. Em segundo lugar, a Bíblia faz
uso de documentos não-bíblicos, como o Livro de Jasar (Js 10.13; 2Sm 1.18), o livro de Enoque (Jd 14) e
até o poeta Epimênedes (At 17.28). Somos informados de que muitos dos provérbios de Salomão
haviam sido editados pelos homens de Ezequias (Pv 25.1). Lucas reconhece o uso de muitas fontes
escritas sobre a vida de Jesus, na composição de seu próprio evangelho (Lc 1.1-4). Em terceiro lugar, os
autores bíblicos empregavam vasta variedade de gêneros literários; tal fato não caracteriza um ditado
monótono em que as palavras são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo padrão. Grande
parte das Escrituras é formada de poesia (e.g., Jó, Salmos, Provérbios). Os evangelhos contêm muitas
parábolas. Jesus empregava a sátira (Mt 19.24), Paulo usava alegorias (Gl 4) e até hipérboles (Cl 1.23),
ao passo que Tiago gostava de usar metáforas e símiles. Por fim, a Bíblia usa a linguagem simples do
senso comum, do dia-a-dia, que salienta a ocorrência de um acontecimento, não a linguagem de
fundamento científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem anticientífica ou negadora
da ciência, e sim linguagem popular para descrever fenômenos científicos. Não é mais anticientífico
afirmar que o sol permaneceu parado (Js 10.12) do que dizer que o sol nasceu ou subiu (Js 1.15). Dizer
que a rainha de Sabá veio "dos confins da terra" ou que as pessoas no Pentecostes vieram "de todas as
nações debaixo do céu" não é dizer coisas com exatidão científica. Os autores usaram formas comuns,
gramaticais de expressar seu pensamento sobre os assuntos. Por isso, o que quer que fique implícito
na doutrina dos escritos inspirados, os dados das Escrituras mostram com clareza que elas incluem o
emprego de grande variedade de fontes literárias e de estilos de expressão. Nem todas as mensagens
vieram diretamente de Deus, mediante ditado. Tampouco foram expressas de modo uniforme e literal.
É preciso que se entenda a inspiração da perspectiva histórica e gramatical. A inspiração não pode ser
entendida como um ditado uniforme, ainda que divino, que exclua os recursos, a personalidade e as
variadas formas humanas de expressão.
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