O QUE É ELEIÇÃO ?

      O QUE É ELEIÇÃO ?
  A eleição consiste no ato soberano de Deus em escolher aqueles que entendeu necessários para concretizar os seus planos. Os eleitos possuem características próprias de acordo com o propósito para que foram eleitos.
  O ato da eleição deu-se “antes da fundação” do mundo ou seja antes do primeiro instante da criação (a palavra “fundação” refere-se, comparativamente, ao momento em que se dá a fecundação do óvulo no ventre materno).
  A eleição é a resposta de Deus aos desastres das Suas criaturas. Pela eleição Deus preveniu-se contra o pecado sendo os eleitos revestidos de características capazes de contrariar o progresso do pecado e da derrocada da criação. E mais que isso viabilizar o progresso dos propósitos divinos pela eternidade futura.
  A eleição é um dos maiores hinos à graça de Deus; ela exemplifica a misericórdia de Deus para com os homens.
  A eleição é também um desígnio soberano de Deus e não uma permissão. Por isso a vocação dos eleitos não depende da sua conduta mas da vontade de Deus. Todo o crente da Graça é diante de Deus “santo, irrepreensível e inculpável” quer o seja ou não na sua vida prática. Aliás a predestinação celestial da Igreja não permitiria menos do que isso.
  Queremos ainda dizer que quando a escritura diz que fomos “eleitos antes da fundação do mundo” isso não quer dizer que existiu um momento em que fomos eleitos mas que a eleição pertence à eternidade. Os propósitos de Deus são eternos (Ef. 3:11). Não queremos dizer com isto que a idealização por parte de Deus dos Seus planos não tenha acontecido sob determinada forma e ordem mas que não podemos quantificar os métodos de Deus sob parâmetros humanos como por exemplo o tempo ou o espaço.
     QUEM SÃO OS ELEITOS?
  Ao contrário do que é frequente ouvirmos não reconhecemos nas escrituras a eleição de pessoas salvas em detrimento dos perdidos. Convém lembrar que a eleição remonta à eternidade passada e que nada tem a ver com a salvação das almas pois quanto a isso a vontade de Deus é muito clara.
  O que pensamos ser claro nas escrituras é a eleição de dois povos, ao que chamamos de eleição corporativa. De facto o que o Senhor elegeu foi Israel como povo com uma vocação terrena para dar resposta ao problema do pecado na terra, e um povo com uma vocação celestial para dar resposta ao problema do pecado no céu.
Israel: Todos reconhecem a chamada enquanto povo da nação terrena do Senhor. Em 1 Reis 3:8 lemos através do rei Salomão acerca do “povo que elegestes”. O apostolo Paulo reafirma o mesmo em Ro 11:28.
  Não sabemos quando foi decretada a eleição de Israel mas não custará a crer que aconteceu junto com os demais desígnios Divinos, tanto mais que em Ef. 3:11 estes são chamados no singular como “eterno propósito”.
  No entanto é de referir que tudo quanto diz respeito a Israel tem como  referencia a “fundação do mundo”. Certamente que isto está relacionado com a vocação terrena do povo, cuja existência é temporária e limitada a este mundo. Quando Abraão foi chamado, Deus disse-lhe que faria dele uma grande nação, e que daria a terra de Canaã à sua semente.  Depois quando olhamos um pouco mais para aquilo que Deus deu a Israel, vemos que todas as bênçãos que eles receberam eram exclusivamente em relação à terra.  Eles seriam felizes na terra, livres dos seus inimigos, abençoados com uma boa colheita, abençoados no seu amaçar do pão, o seu gado, as suas vinhas, os seus ventres.  Tudo de bom que Deus podia dar ao homem na terra Ele prometeu a Israel, desde que atentassem para as Suas palavras. Tudo está relacionado com esta vida e com este mundo e não com o céu.
A Igreja: Ao contrário de Israel a eleição da Igreja está claramente referenciada à eternidade passada “... elegeu nele antes da fundação do mundo” e diz respeito a uma vocação exclusivamente celestial. Esta tal com o próprio céu de Deus permanecerá eternamente. No entanto se quanto a Israel ninguém tem dúvidas a respeito da sua eleição enquanto povo, a respeito da Igreja da presente dispensação muitos se levantam esquecendo as palavras do apóstolo a Tito 2:14 “...povo especial, zeloso de boas obras” ou ainda 2Co 6:16  “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.”, ou até Ro 9:25 “Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à que não era amada”, para falar de uma eleição individual em detrimento de outros. De facto Deus nunca elegeu ninguém em detrimento de outros mas mais uma vez elegeu um povo, mas este ao contrário de Israel com vocação para o céu, para a presença de Deus.
  Tal como em Israel, a vocação da Igreja nada tem a ver com a salvação das almas. Estes povos foram eleitos ou escolhidos “para” cumprirem com “a vocação para que foram chamados”. Assim a vocação celestial da Igreja implica que sejamos dotados de características celestiais e não terrenas. Desde a vida do crente à sua relação com Deus, passando pela sua esperança e herança, tudo aponta para as regiões celestiais. A eleição da Igreja, também chamada de “eleição da graça”, tem também uma componente prática e o apóstolo dos gentios, corroborado por Pedro, associa a nossa vida prática ao carácter da nossa eleição (celestial)  Col 3:12; 2Pe 1:10.  No entanto podemos questionar: não são os crentes chamados de eleitos? Sim, e muito naturalmente, no entanto isso não é um adjectivo do crente mas um título (Ap. 17:14). É o mesmo que um membro do povo de Portugal ter o título de português. Um membro de um povo eleito é um eleito não porque Deus o tenha escolhido de uma forma individual mas porque pertence ao povo eleito.
    A VOCAÇÃO DA IGREJAS
  Convém começar por salientar que este assunto da vocação da igreja é vastíssimo sendo em si mesmo o tema que o apóstolo Paulo desenvolve ao longo das suas epístolas. Entendemos no entanto que é importante abordá-lo neste momento, ainda que abreviadamente.
  A vocação da Igreja da presente dispensação, ao contrario do que possa parecer à primeira vista, é um assunto com uma vertente prática muito clara. Nós não fomos chamados apenas para conhecer a nossa vocação mas para andar de acordo com ela: “que andeis como é digno da vocação com que foste chamados” (Ef. 4:1).  Deus está interessado em fazer uma obra gloriosa de santificação no Seu povo, no entanto não uma santificação qualquer mas de acordo com a presente vocação: “Por isso também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra da fé com poder” (2Tim 1:11).
   A vocação da Igreja Corpo de Cristo, tal como tudo o que lhe diz respeito, é celestial e espiritual: “Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial...” (Heb 3:1). Tudo o que diz respeito à igreja diz respeito ao céu e ao plano de Deus para ele. Hoje os crentes devem viver com o seu olhar fixo nele, andando e buscando as coisas próprias do céu e não as da vocação terrena: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima”  celestiais  “onde Cristo está assentado à destra de Deus” (Col. 3:1). É por causa disto que as bênçãos, por exemplo, ao dispor dos crentes hoje são por natureza celestiais e espirituais: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;” (Ef. 1:3)  as coisas terrenas como os bens materiais, saúde, e outras, ainda que lícitas quando vividas com acção de graças, nem sequer devem ser chamadas de bênçãos, pelo menos no sentido que a palavra de Deus lhes chama hoje.
  Todos os aspectos da vida prática dos crentes devem ser caracterizados pela natureza da nossa vocação, sendo que muitos dos desvios verificados na vida de crentes sinceros advêm da incompreensão da sua vocação, vivendo de acordo com práticas e comportamentos pertencentes à vocação terrena de Israel. Isto é tanto mais importante quanto afecta não só o nosso dia a dia como também a forma como nos relacionamos com Deus pela oração e adoração. É frequente vermos crentes a orarem segundo os modelos que encontramos nos evangelhos com petições que só a acção do Espírito para as aperfeiçoar é que poderá fazer com que façam algum sentido aos ouvidos de Deus. Até mesmo a forma como nos reunimos para cultuar o Senhor depende da compreensão e prática da nossa vocação, caso contrário adorá-lO-emos não com “salmos, hinos e cânticos espirituais” mas com manifestações físicas como acontecia no tempo do povo terreno do Senhor.
  Notemos ainda que, tal como verificamos com a eleição, também a Vocação dos povos eleitos é, nas suas particularidades, um acto soberano de Deus não dependente o êxito ou fracasso humano: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fil. 3:14). “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;” (2Tito 1:9).
   Analisemos as particularidades da nossa vocação:
A ESSÊNCIA DA VOCAÇÃO
   Cristo é a “plenitude daquele que cumpre tudo em todos” e o fundamento, “a principal pedra de esquina”, do “propósito eterno de Deus”. Ele é essência de tudo e também da Vocação celestial da Igreja. Principalmente sobre a perspectiva da Cruz, elemento fundamental dos ensinos da Graça, Cristo manifesta Deus sob aspectos nunca antes conhecidos. Seja a intimidade de Deus nas Suas pessoas Divinas, seja a Sua Graça, riquíssima misericórdia ou multiforme sabedoria (Ef. 2:4-9; 3:10). A Igreja Corpo de Cristo é o instrumento por meio do qual Cristo Se revela aos homens.
   Por isso compreendemos a pretensão de Deus na chamada de Igreja: “Para louvor e glória da Sua graça” (Ef. 1:6). A igreja é um povo essencialmente de adoradores que exercerão essa função de modo particular no céu; mas já neste mundo o Senhor espera vidas de adoração em cada crente. Fomos salvos para ser o “louvor e glória da Sua graça” e não devemos esperar pela eternidade antes devemos procurar viver desde este mundo uma vida que soe ao Senhor como um louvor verdadeiro e sincero.
O CARATER: “SANTOS E INREPREENCIVEL”
  Este é o carácter da igreja aos olhos de Deus, um carácter digno do céu. Para a Sua presença o Senhor não espera menos do que isto: “santos e irrepreensíveis”. O povo celestial de Deus, a Igreja Corpo de Cristo, destina-se a viver no céu pelo que o seu carácter tem que estar de acordo com a presença do Senhor. Notemos que esta particularidade, exclusiva da Igreja, não está dependente da vida terrena dos crentes mas da deliberação soberana de Deus: “Prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fil. 3:14). Foi Deus quem decidiu e que materializará esta obra, no céu. Hoje todo o crente está, posicionalmente, sentado à “destra de Deus” e nesse lugar somos “santos e irrepreensíveis”, embora na prática vivamos quase sempre longe deste elevado estatuto. Mas “ausente do corpo, presente com o Senhor” o crente entra no gozo pleno da sua vocação sendo tudo aquilo que o Senhor determinou para ele, no céu.
  No entanto somos exortados a viver já neste mundo segundo esta vocação pelo que devemos procurar viver de forma santa e irrepreensível  isto é não dando azo a que sejamos repreendidos e  nos culpem por alguma “obra má” que pratiquemos

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